Tormentos de um desperto
Ou “A canção da tempestade eterna”
Imagino-me num pesadelo!
Rugem, como tambores, os
trovões!
Num estrondo, sinto meus
cabelos
Puxados pela consciência dos
clarões!
Ela pesa muito nesta
tempestade...
Arrancam-me do sono forçado,
Induzido pelos remédios da
verdade,
As minhas lembranças do
futuro e do passado!
Sinto, súbito como o
relampejar,
A força com que todas as
memórias
Atingem o meu profundo e o
meu criar,
A força com que destruo
minha história!
Minha cabeça dói, e colapso
ao sono...
Agoniado, tenho uma forte
falta de ar,
E a cada estrondo de um
trovão tomo
Consciência de que nunca hei
de despertar!
Giro para um lado, para
outro giro...
Um calafrio me sobe a
espinha
E me atira, como eu que
atiro,
A incoerência que hoje é
minha!
E como se meu sono profundo
fosse,
Talvez não me acordasse a
cada instante,
Gritando em meu
subconsciente: “Acabou-se”,
A própria fúria implacável e
distante
Que é ser Homem, sujeito ao
fim.
E vivo, sem na vida ter
achado sentido,
Mas o procurando feito louco
para, assim,
Descobrir que o morto me há
mentido!
Mas, consciente da minha
insignificância,
Vejo que sou igual a um
cachorro,
Ainda procurando o que fui
na infância...
Agora que o sono já me não
persegue, eu morro
Para contar a minha história
nos séculos vindouros,
Para reconhecer, perante a
eternidade da Natureza,
Que a minha existência tem
tanto ouro
Quanto a existência de uma
mesa!
Guilherme Ottoni, 31 - I - 2015
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