Saturday, January 31, 2015

Um poema feito durante uma tempestade tropical.

Tormentos de um desperto
Ou “A canção da tempestade eterna”

Imagino-me num pesadelo!
Rugem, como tambores, os trovões!
Num estrondo, sinto meus cabelos
Puxados pela consciência dos clarões!

Ela pesa muito nesta tempestade...
Arrancam-me do sono forçado,
Induzido pelos remédios da verdade,
As minhas lembranças do futuro e do passado!

Sinto, súbito como o relampejar,
A força com que todas as memórias
Atingem o meu profundo e o meu criar,
A força com que destruo minha história!

Minha cabeça dói, e colapso ao sono...
Agoniado, tenho uma forte falta de ar,
E a cada estrondo de um trovão tomo
Consciência de que nunca hei de despertar!

Giro para um lado, para outro giro...
Um calafrio me sobe a espinha
E me atira, como eu que atiro,
A incoerência que hoje é minha!

E como se meu sono profundo fosse,
Talvez não me acordasse a cada instante,
Gritando em meu subconsciente: “Acabou-se”,
A própria fúria implacável e distante

Que é ser Homem, sujeito ao fim.
E vivo, sem na vida ter achado sentido,
Mas o procurando feito louco para, assim,
Descobrir que o morto me há mentido!

Mas, consciente da minha insignificância,
Vejo que sou igual a um cachorro,
Ainda procurando o que fui na infância...
Agora que o sono já me não persegue, eu morro

Para contar a minha história nos séculos vindouros,
Para reconhecer, perante a eternidade da Natureza,
Que a minha existência tem tanto ouro

Quanto a existência de uma mesa!

Guilherme Ottoni, 31 - I - 2015

Saturday, December 27, 2014

Um poema feito após assistir, assustado, a retrospectiva do ano, para quem se interessar. (Será o último de 2014, seguindo a rotina de pessimismo em cada fim de ano).


Filho do meu tempo

Hoje em dia combate-se guerra com mais guerra,
Rejeita-se a truculência com mais truculência...
O mundo inteiro vive agoniado, ele berra!
Mesmo com os mais novos avanços da ciência

Os preconceitos insistem em crescer na Terra...
O pessimismo, a desgraça, e a cega obediência
A quem não admite que também lacrimeja e erra
Fazem o mundo obliterar sua consciência...

Eis o tempo que eu direi a todos que vivi,
Particularmente aos meus netos, ou mesmo filhos!
Um mundo, explicarei eu, que não esqueci,

Para que não presenciem o que eu presencio...
Para que eles, então, não sintam o que eu senti
Quando chorei por estas estrofes que copio!

Guilherme Ottoni, 27 - XII - 2014

Saturday, October 11, 2014

Para os momentos da mais profunda solidão...

A solidão

Estou no meu melancólico quarto e observo o escuro.
Tento achar motivo que complete alma tão vazia,
Mas quanto mais o persigo, quanto mais o procuro
Mais meu peito se afunda em angústia e mais se silencia.

Transformava-me num vil rabisco, e ele preenchia
Todos meus sentimentos de concreto muito duro.
E, assim, mais me atormentava e mais triste eu me sentia,
Mais meu tórax se tornava silêncio muito puro!

Ah! Este meu desespero transcendente e sagrado,
Me enche de alegria, e me faz seco e amargurado.
Faz-me levantar mundos sem força e aguentar distâncias,

Oferece-me do saber o âmago profundo,
Mas também me traz o sentimento nojento e imundo
De conhecer minha mais torpe e cruel substância!

Monday, October 6, 2014

Em vista do lindo luar de hoje, publico este poema.

À que me encanta pela simples essência

Tua indiferença me faz sentir tão bem!
Com um tom de horrível e um outro de sublime,
A tua indiferença o meu amor exprime!
E o peito que arde – e este meu coração também! –

Se desfaz na distância entre o Mal e o Bem!
Teu torpor: minha felicidade, e o teu crime!

E quanto a ti, quando na treva, à noite, vi-me
Preso nas sombras do desejo e do desdém,

Torço que me desprezes, e tua frieza
Me console ao olhar foto tão pequenina...
Que portanto vire este sonho purpurina!

Que teu encanto e tua inegável beleza
Mudem um Mundo tão triste – ao menos o meu! – :
Ideal de luar, do luar que hoje é teu!



Guilherme Ottoni, 03-X-2014 

Sunday, August 3, 2014

Um poema novo, que fala sobre a diversidade (tão bela) dos relacionamentos neste nosso século XXI.

Amores no século XXI

Por Guilherme Ottoni

Por que me vens, declamando Safo em sua ilha,
A mim que desejo os amores da mulher,
Como o Sol que à tarde, incandescente luz, brilha
Numa praia tão distante e fresca e qualquer?!

Eu que neste intenso Sol de verão não cria.
E ele que a ti, simplesmente a ti, era mister!
Vedava-me cogitar, e sonhar que havia
Ser tão intangível em forma de mulher!

Se irás ao Céu tétrica ou, contente, ao Inferno,
Que importa?! Só penso se estás ou não feliz!
Carrega este meu verão e este meu inverno!

Não canta este Deus que me deu a cicatriz,
De ter em mim um flagelo mágico e eterno,

Este cromossomo Y em lugar de um X...

Friday, April 25, 2014

When We Dissever

What hast thou gotten
Besides that stinking and rotten
Corpse? That lifeless body
Which those days, those gaudy

Days, like the gentle fly,
Make it so ravishing and putrefied!
When thou becomest like this dove,
Remember that thou still hast my love!

And though parted by our two addled carrion,
We have to recall to carry on
With our souls enclosed by the vultures,
With our minds filled with torment and culture!